LÍNGUA
PORTUGUESA E LITERATURA
DATA
DA AULA: 03 e 08/09/2020
TEMA DA AULA: “Como
ser o melhor escritor brasileiro e todos os tempos”, “ Do Trapézio e outras
coisas”
ETAPA DE ENSINO: 2º
ano Médio
Habilidades do
Currículo do Estado de São Paulo:
Ø
Relacionar
a construção da subjetividade à expressão literária em textos do século XIX;
Ø
Concatenar
ideias na estruturação de textos expositivos e narrativo.
Objetivos de
conhecimento:
Ø
Conhecer
o estilo literário Realismo, suas origens e influências e seu principal
expoente no Brasil: Machado de Assis, a partir das atividades do Caderno do
Aluno, 3º Bimestre.
I – O que faremos
hoje?
Ø
Conhecer
com mais profundidade a obra literária do escritor Machado de Assis;
Ø
Relacionar
os conhecimentos sobre Realismo à obra de Machado de Assis;
Ø
Conhecer
o enredo de “Dom Casmurro” e ler um excerto desta obra;
Ø
Conhecer
outros enredos de obras do autor e propor a leitura de um capítulo de “Memórias
póstumas de Brás Cubas”.
Ø
Ler
e debater o capítulo “Do trapézio e outras coisas”, do romance Memórias póstumas de Brás Cubas,
de Machado de Assis. (Disponível no Caderno do Aluno, 3º Bimestre, páginas 104).
II –Responda
Ø O que é preciso para um livro
ser lido por diferentes gerações e continuar importante ao longo dos séculos?
Ø Qual talento um escritor
precisa ter para escrever livros que envolvam seus leitores e os faça querer
ler toda sua obra?
III –Pesquise um Vídeo
documentário sobre Machado de Assis e escreva sobre ele.
Romances
Ressurreição
(1872)
A
mão e a luva (1874)
Helena
(1876)
Iaiá
Garcia (1878)
Memórias
Póstumas de Brás Cubas (1881)
Casa
Velha (1885)
Quincas
Borba (1891)
Dom
Casmurro (1899)
Esaú
e Jacó (1904)
Memorial
de Aires(1908)
IV - Dom Casmurro
Responda no caderno
“[...] Se isto vos
parecer enfático, desgraçado leitor, é que nunca penteastes uma pequena, nunca
pusestes as mãos adolescentes na jovem cabeça de uma ninfa... Uma ninfa!” [...]
Ø
Por
que o narrador trata o leitor desta forma?
“[...] desejei
penteá-los por todos os séculos dos séculos, tecer duas tranças que pudessem
envolver o infinito por um número inominável de vezes. [...]”
Ø
Que figura
de linguagem é predominante neste trecho?
a) Antítese
b) Paradoxo
c) Metáfora
d) Mentonímia
e) Hipérbole
V - Memórias Póstumas
de Brás Cubas
CAPÍTULO 17
Do trapézio e outras coisas
... Marcela amou-me durante quinze meses e onze contos de réis; nada
menos. Meu pai, logo que
teve aragem dos onze contos,
sobressaltou-se deveras; achou que o caso excedia as raias de um
capricho juvenil.
– Desta vez, disse ele, vais para a Europa; vais cursar uma
universidade, provavelmente Coimbra;
quero-te para homem sério e não para
arruador e gatuno. E como eu fizesse um gesto de espanto: –
Gatuno, sim, senhor; não é outra coisa um filho que me faz isto...
Sacou da algibeira
os meus títulos de dívida, já resgatados por ele, e sacudimos na cara. — Vês,
peralta? É assim que um moço deve zelar o nome dos seus? Pensas que eu e meus
avós ganhamos o dinheiro em casas de jogo ou a vadiar pelas ruas? Pelintra!
Desta vez ou tomas juízo, ou ficas sem coisa nenhuma.
Estava furioso, mas de um furor
temperado e curto. Eu ouvi-o calado, e nada opus à ordem da viagem, como de
outras vezes fizera; ruminava a ideia de levar Marcela comigo. Fui ter com ela;
expus-lhe a crise e fiz-lhe a proposta. Marcela ouviu-me com os olhos no ar,
sem responder logo; como insistisse,
disse-me que ficava, que não podia ir para a Europa.
Responda
Ø
O pai de
Brás Cubas pagou todas as despesas e os
empréstimos que o filho fez com estranhos. O que isso revela da personalidade
de Brás Cubas? Qual é a relação desse comportamento com o trapézio?
(...)
– Por que não?
– Não posso, disse
ela com ar dolente; não posso ir respirar aqueles ares, enquanto me lembrar de
meu pobre pai, morto por Napoleão...
– Qual deles: o
hortelão ou o advogado?
Marcela franziu a
testa, cantarolou uma seguidilha, entre dentes; depois queixou-se do calor, e
mandou vir um copo de aluá. Trouxe-lho a mucama, numa salva de prata, que fazia
parte dos meus onze
contos. Marcela ofereceu-me polidamente o refresco; minha resposta foi dar com
a mão no copo e na
salva; entornou-lhe o líquido no regaço, a preta deu um grito, eu bradei-lhe
que se fosse embora.
Ficando a sós, derramei todo o desespero de meu coração; disse-lhe que ela era
um monstro, que jamais
me tivera amor, que me deixara descer a tudo, sem ter ao menos a desculpa da
sinceridade; chamei-lhe
muitos nomes feios, fazendo muitos gestos descompostos. Marcela deixara-se
estar sentada, a estalar as
unhas nos dentes, fria como um pedaço de mármore.
Tive ímpetos de a
estrangular; de a humilhar ao menos, subjugando-a a meus pés. Ia talvez
fazê-lo; mas a ação trocou-se noutra; fui eu que me atirei aos pés dela,
contrito e súplice; beijei-lhos, recordei aqueles meses da nossa felicidade
solitária, repeti-lhe os nomes queridos de outro tempo, sentado no chão, com a
cabeça entre os joelhos dela, apertando-lhe muito as mãos; ofegante desvairado,
pedi-lhe com lágrimas que me não desamparasse... Marcela esteve alguns instantes
a olhar para mim, calados ambos, até que brandamente me desviou e, com um ar
enfastiado:
– Não me aborreça,
disse.
Responda
Ø
Que crítica
implícita é possível identificar quanto à idealização romântica do amor?
Levantou-se, sacudiu o vestido, ainda molhado,
e caminhou para a alcova. -Não! bradei eu; não hás
de entrar...não quero... Ia a lançar-lhe as mãos: era tarde; ela entrara e
fechara-se.
Saí desatinado;
gastei duas mortais horas em vaguear pelos bairros mais excêntricos e desertos,
onde fosse difícil dar comigo. Ia mastigando o meu desespero, com uma espécie
de gula mórbida; evocava os dias, as horas, os instantes de delírio, e ora me
comprazia em crer que eles eram eternos, que tudo aquilo era um pesadelo, ora,
enganando-me a mim mesmo, tentava rejeitá-los de mim, como um fardo inútil.
Então resolvia embarcar imediatamente para cortar a minha vida em duas metades,
e deleitava--me com a ideia de que Marcela, sabendo da partida, ficaria ralada
de saudades e remorsos.
Que ela amara-me a
tonta, devia de sentir alguma coisa, uma lembrança qualquer, como do alferes
Duarte... Nisto, o dente do ciúme enterrava-me no coração; e toda a natureza me
bradava que era
preciso levar Marcela comigo.
(...)
– Por força... por
força... dizia eu ferindo o ar com uma punhada.
Enfim, tive uma ideia salvadora... Ah! trapézio dos meus
pecados, trapézio das concepções abstrusas!
A ideia salvadora trabalhou nele, como a do emplasto. Era nada
menos que fasciná-la, fasciná-la muito,
deslumbrá-la, arrastá-la; lembrou-me pedir-lhe por um meio mais concreto do que
a súplica. Não medi
as consequências: recorri a um derradeiro empréstimo; fui à Rua dos Ourives,
comprei a melhor joia da
cidade, três diamantes grandes, encastoados num pente de marfim; corri à casa
de Marcela.
Marcela estava
reclinada numa rede, o gesto mole e cansado, uma das pernas pendentes, a
ver-lhe o
pezinho calçado de meia de seda, os cabelos soltos, derramados, o olhar quieto
e sonolento.
– Vem comigo, disse eu, arranjei
recursos... temos muito dinheiro, terás tudo o que quiseres... Olha, toma.
E mostrei-lhe o
pente com os diamantes. Marcela teve um leve sobressalto, ergueu metade do
corpo,
e, apoiada num cotovelo, olhou para o pente durante alguns instantes curtos;
depois retirou os olhos;
tinha-se dominado. Então, eu lancei-lhe as mãos aos cabelos, coligi-os,
enlacei-os à pressa, improvisei
um toucado, sem nenhum alinho, e rematei-o com o pente de diamantes; recuei,
tornei a aproximar-
-me, corrigi-lhes as madeixas, abaixei-as de um lado, busquei alguma simetria
naquela desordem,
tudo com uma minuciosidade e um carinho de mãe.
– Pronto, disse
eu.
– Doido! foi a sua
primeira resposta.
A segunda foi
puxar-me para si, e pagar-me o sacrifício com um beijo, o mais ardente de
todos.
Depois tirou o pente, admirou muito a matéria e o lavor, olhando a espaços para
mim, e abanando a
cabeça, com um ar de repreensão:
– Ora você! dizia.
– Vens comigo?
Marcela refletiu um
instante. Não gostei da expressão com que passeava os olhos de mim para a
parede, e da parede para a joia; mas toda a má impressão se desvaneceu, quando
ela me respondeu resolutamente:
– Vou. Quando embarcas?
– Daqui a dois ou
três dias.
– Vou.
Agradeci-lho de
joelhos. Tinha achado a minha Marcela dos primeiros dias, e disse-lho; ela
sorriu, e foi
guardar a joia, enquanto eu descia a escada.
ASSIS,
Machado de. Memórias Póstumas de Brás Cubas. Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bn000167.pdf>. Acesso em: 21 jan. 2020.
VI - Sobre
o texto lido
Brás Cubas, o “defunto-autor”, narra a história de quando viveu em
meio a regalias, sendo protegido pela conivência paternal. Nesse capítulo, o
autor utiliza a ironia e o eufemismo para que o leitor perceba o relacionamento
do protagonista com Marcela, que tem grande interesse nos caros presentes que
ele lhe dava. Ainda assim, Brás Cubas, afirma decididamente que ela o amou, mas
é possível perceber que, nesse relacionamento, amor e interesse financeiro
estão intimamente ligados.
Responda
Ø
Considerando o tom irônico próprio do estilo machadiano e o contexto
da obra quanto à desmitificação do ideal romântico, qual sua opinião a respeito
do início do capítulo: “Marcela amou-me
durante quinze meses e onze contos de réis”?
BONS ESTUDOS!!
lilibordinhao@gmail.com
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