segunda-feira, 21 de setembro de 2020

Prof. Liria Bordinhao - Aula 2 A - Lingua Portuguesa e Literatura - de 21 a 25 de setembro

 

LÍNGUA PORTUGUESA E LITERATURA

DATA DA AULA: 03 e 08/09/2020

TEMA DA AULA: “Como ser o melhor escritor brasileiro e todos os tempos”, “ Do Trapézio e outras coisas”

ETAPA DE ENSINO: 2º ano Médio

 

Habilidades do Currículo do Estado de São Paulo:

Ø  Relacionar a construção da subjetividade à expressão literária em textos do século XIX;

Ø  Concatenar ideias na estruturação de textos expositivos e narrativo.

 

 

Objetivos de conhecimento:

Ø  Conhecer o estilo literário Realismo, suas origens e influências e seu principal expoente no Brasil: Machado de Assis, a partir das atividades do Caderno do Aluno, 3º Bimestre.

 

I – O que faremos hoje?

Ø  Conhecer com mais profundidade a obra literária do escritor Machado de Assis;

Ø  Relacionar os conhecimentos sobre Realismo à obra de Machado de Assis;

Ø  Conhecer o enredo de “Dom Casmurro” e ler um excerto desta obra;

Ø  Conhecer outros enredos de obras do autor e propor a leitura de um capítulo de “Memórias póstumas de Brás Cubas”.

Ø  Ler e debater o capítulo “Do trapézio e outras coisas”,  do romance Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis. (Disponível no Caderno do Aluno, 3º Bimestre, páginas 104).

 

 

II –Responda

Ø  O que é preciso para um livro ser lido por diferentes gerações e continuar importante ao longo dos séculos?

Ø  Qual talento um escritor precisa ter para escrever livros que envolvam seus leitores e os faça querer ler toda sua obra?

III –Pesquise um  Vídeo documentário sobre Machado de Assis e escreva sobre ele.






 

 

 



Romances

Ressurreição (1872)

A mão e a luva (1874)

Helena (1876)

Iaiá Garcia (1878)

Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881)

Casa Velha (1885)

Quincas Borba (1891)

Dom Casmurro (1899)

Esaú e Jacó (1904)

Memorial de Aires(1908)

 

 

 

 

IV - Dom Casmurro





Responda no caderno

“[...] Se isto vos parecer enfático, desgraçado leitor, é que nunca penteastes uma pequena, nunca pusestes as mãos adolescentes na jovem cabeça de uma ninfa... Uma ninfa!” [...]

Ø  Por que o narrador trata o leitor desta forma?

 

“[...] desejei penteá-los por todos os séculos dos séculos, tecer duas tranças que pudessem envolver o infinito por um número inominável de vezes. [...]”

Ø  Que figura de linguagem é predominante neste trecho?

a)    Antítese

b)   Paradoxo

c)    Metáfora

d)   Mentonímia

e)    Hipérbole

 

 

V - Memórias Póstumas de Brás Cubas

CAPÍTULO 17

Do trapézio e outras coisas

      ... Marcela amou-me durante quinze meses e onze contos de réis; nada menos. Meu pai, logo que
teve aragem dos onze contos, sobressaltou-se deveras; achou que o caso excedia as raias de um
capricho juvenil.

      – Desta vez, disse ele, vais para a Europa; vais cursar uma universidade, provavelmente Coimbra;
quero-te para homem sério e não para arruador e gatuno. E como eu fizesse um gesto de espanto: –
       Gatuno, sim, senhor; não é outra coisa um filho que me faz isto...

       Sacou da algibeira os meus títulos de dívida, já resgatados por ele, e sacudimos na cara. — Vês, peralta? É assim que um moço deve zelar o nome dos seus? Pensas que eu e meus avós ganhamos o dinheiro em casas de jogo ou a vadiar pelas ruas? Pelintra! Desta vez ou tomas juízo, ou ficas sem coisa nenhuma.
       Estava furioso, mas de um furor temperado e curto. Eu ouvi-o calado, e nada opus à ordem da viagem, como de outras vezes fizera; ruminava a ideia de levar Marcela comigo. Fui ter com ela; expus-lhe a crise e fiz-lhe a proposta. Marcela ouviu-me com os olhos no ar, sem responder logo; como insistisse,
disse-me que ficava, que não podia ir para a Europa.

 

Responda

Ø  O pai de Brás Cubas pagou todas as despesas  e os empréstimos que o filho fez com estranhos. O que isso revela da personalidade de Brás Cubas? Qual é a relação desse comportamento com o trapézio?

(...)

       – Por que não?

       – Não posso, disse ela com ar dolente; não posso ir respirar aqueles ares, enquanto me lembrar de
meu pobre pai, morto por Napoleão...

       – Qual deles: o hortelão ou o advogado?

       Marcela franziu a testa, cantarolou uma seguidilha, entre dentes; depois queixou-se do calor, e mandou vir um copo de aluá. Trouxe-lho a mucama, numa salva de prata, que fazia parte dos meus onze
contos. Marcela ofereceu-me polidamente o refresco; minha resposta foi dar com a mão no copo e na
salva; entornou-lhe o líquido no regaço, a preta deu um grito, eu bradei-lhe que se fosse embora.
Ficando a sós, derramei todo o desespero de meu coração; disse-lhe que ela era um monstro, que jamais
me tivera amor, que me deixara descer a tudo, sem ter ao menos a desculpa da sinceridade; chamei-lhe
muitos nomes feios, fazendo muitos gestos descompostos. Marcela deixara-se estar sentada, a estalar as
unhas nos dentes, fria como um pedaço de mármore.

       Tive ímpetos de a estrangular; de a humilhar ao menos, subjugando-a a meus pés. Ia talvez fazê-lo; mas a ação trocou-se noutra; fui eu que me atirei aos pés dela, contrito e súplice; beijei-lhos, recordei aqueles meses da nossa felicidade solitária, repeti-lhe os nomes queridos de outro tempo, sentado no chão, com a cabeça entre os joelhos dela, apertando-lhe muito as mãos; ofegante desvairado, pedi-lhe com lágrimas que me não desamparasse... Marcela esteve alguns instantes a olhar para mim, calados ambos, até que brandamente me desviou e, com um ar enfastiado:

       – Não me aborreça, disse.

 

Responda

Ø  Que crítica implícita é possível identificar quanto à idealização romântica do amor?

    

 Levantou-se, sacudiu o vestido, ainda molhado, e caminhou para a alcova. -Não! bradei eu; não hás
de entrar...não quero... Ia a lançar-lhe as mãos: era tarde; ela entrara e fechara-se.

       Saí desatinado; gastei duas mortais horas em vaguear pelos bairros mais excêntricos e desertos, onde fosse difícil dar comigo. Ia mastigando o meu desespero, com uma espécie de gula mórbida; evocava os dias, as horas, os instantes de delírio, e ora me comprazia em crer que eles eram eternos, que tudo aquilo era um pesadelo, ora, enganando-me a mim mesmo, tentava rejeitá-los de mim, como um fardo inútil. Então resolvia embarcar imediatamente para cortar a minha vida em duas metades, e deleitava--me com a ideia de que Marcela, sabendo da partida, ficaria ralada de saudades e remorsos.

       Que ela amara-me a tonta, devia de sentir alguma coisa, uma lembrança qualquer, como do alferes
Duarte... Nisto, o dente do ciúme enterrava-me no coração; e toda a natureza me bradava que era
preciso levar Marcela comigo.

 (...)

       – Por força... por força... dizia eu ferindo o ar com uma punhada.

Enfim, tive uma ideia salvadora... Ah! trapézio dos meus pecados, trapézio das concepções abstrusas!

A ideia salvadora trabalhou nele, como a do emplasto. Era nada menos que fasciná-la, fasciná-la muito,
deslumbrá-la, arrastá-la; lembrou-me pedir-lhe por um meio mais concreto do que a súplica. Não medi
as consequências: recorri a um derradeiro empréstimo; fui à Rua dos Ourives, comprei a melhor joia da
cidade, três diamantes grandes, encastoados num pente de marfim; corri à casa de Marcela.

        Marcela estava reclinada numa rede, o gesto mole e cansado, uma das pernas pendentes, a ver-lhe o
pezinho calçado de meia de seda, os cabelos soltos, derramados, o olhar quieto e sonolento.
       – Vem comigo, disse eu, arranjei recursos... temos muito dinheiro, terás tudo o que quiseres... Olha, toma.

        E mostrei-lhe o pente com os diamantes. Marcela teve um leve sobressalto, ergueu metade do corpo,
e, apoiada num cotovelo, olhou para o pente durante alguns instantes curtos; depois retirou os olhos;
tinha-se dominado. Então, eu lancei-lhe as mãos aos cabelos, coligi-os, enlacei-os à pressa, improvisei
um toucado, sem nenhum alinho, e rematei-o com o pente de diamantes; recuei, tornei a aproximar-
-me, corrigi-lhes as madeixas, abaixei-as de um lado, busquei alguma simetria naquela desordem,
tudo com uma minuciosidade e um carinho de mãe.

        – Pronto, disse eu.

       – Doido! foi a sua primeira resposta.

       A segunda foi puxar-me para si, e pagar-me o sacrifício com um beijo, o mais ardente de todos.
Depois tirou o pente, admirou muito a matéria e o lavor, olhando a espaços para mim, e abanando a
cabeça, com um ar de repreensão:

       – Ora você! dizia.

       – Vens comigo?

       Marcela refletiu um instante. Não gostei da expressão com que passeava os olhos de mim para a parede, e da parede para a joia; mas toda a má impressão se desvaneceu, quando ela me respondeu resolutamente:
       – Vou. Quando embarcas?

       – Daqui a dois ou três dias.

       – Vou.

      Agradeci-lho de joelhos. Tinha achado a minha Marcela dos primeiros dias, e disse-lho; ela sorriu, e foi
guardar a joia, enquanto eu descia a escada.

ASSIS, Machado de. Memórias Póstumas de Brás Cubas. Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bn000167.pdf>. Acesso em: 21 jan. 2020.

 

VI - Sobre o texto lido

Brás Cubas, o “defunto-autor”, narra a história de quando viveu em meio a regalias, sendo protegido pela conivência paternal. Nesse capítulo, o autor utiliza a ironia e o eufemismo para que o leitor perceba o relacionamento do protagonista com Marcela, que tem grande interesse nos caros presentes que ele lhe dava. Ainda assim, Brás Cubas, afirma decididamente que ela o amou, mas é possível perceber que, nesse relacionamento, amor e interesse financeiro estão intimamente ligados.

 

Responda

Ø  Considerando o tom irônico próprio do estilo machadiano e o contexto da obra quanto à desmitificação do ideal romântico, qual sua opinião a respeito do início do capítulo: “Marcela amou-me durante quinze meses e onze contos de réis”?

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

BONS ESTUDOS!!

 

            lilibordinhao@gmail.com

 

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